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Foto do escritorDr. Artur Vasconcelos

DÊ UM OSSO

Atualizado: 14 de dez. de 2020

É o melhor que você pode fazer pelo seu cachorro




Poucos assuntos em nutrição levam a debates mais calorosos que a oferta de ossos para os cães. O imaginário coletivo de que ossos são muito perigosos apareceu junto com os alimentos comerciais extrusados. Criou-se uma “cultura” que estimula mitos e ressalvas em relação à prática de ofertá-los aos cães, que favoreceu a progressão da aceitação rações como alimento único, ou mais seguro. A maioria das pessoas já foi orientada, principalmente por médicos veterinários, a evitá-los pelo risco de obstruções e perfurações. Não que ossos não possam causar acidentes, mas quando bem escolhidos, e sempre crus, as chances de um acidente acontecer são muito pequenas.

A melhor evidência possível para incluir ossos na dieta do seu cão é o argumento histórico. Cães sempre comeram ossos, desde o início da sua evolução em subespécie, há 30 mil anos atrás, o o fazem até os dias de hoje.

Basta observar a porta de qualquer açougue em cidades interioranas, onde cães vagam livremente pelas ruas. Instintivamente, cães procuram por ossos. É uma associação usada pela própria indústria, basta reparar no formato da na maioria dos biscoitos comercializados para cães. E considerando que a dieta ideal de um cão é baseada principalmente no consumo completo, ou quase completo, de presas variadas, é importante reforçar que os ossos e cartilagens que compõe o esqueleto do animal abatido são de fundamental importância para uma boa nutrição.

Uma função dos ossos pouco valorizada é o que eles permitem não incluir.


Ossos, depois de água e das células do próprio trato gastrointestinal do cão seriam o principal componente da fezes. São eles que mantem uma boa textura do bolo fecal, e permite o cão ter um movimento defecatório sem dependência de fibra dietética. Isso mesmo, não há exigência nutricional de fibras na dieta do cão. Porém, em dietas sem ossos, exclusivamente com carne e vísceras, essas fezes não apresentam um formato e textura aceitáveis, sinalizando problemas intestinais. Com isso, ficamos dependentes de um acréscimo de material vegetal anormal e não natural para a espécie. Com isso, acabamos por aumentar o teor de carboidratos da dieta, expondo os cães a fatores anti-nutricionais diversos (presentes em algumas plantas) além de elevar os teores de fibra, que interferem na digestibilidade protéica e de vitaminas lipossolúveis.


Ao contrário que alguns colegas que trabalham com dietas caseiras podem sugerir, ossos são muito mais que uma simples fonte de cálcio. Eles são essenciais para o fornecimento, em equilíbrio, de vários minerais. Frequentemente vemos dietas caseiras deficientes (especialmente para filhotes) nesse mineral muito importante, que é o fósforo. Em dietas sem ossos, acaba sendo necessária a suplementação por macrominerais sintéticos, de biodisponibilidade duvidosa. Quando feita de forma incorreta, expõe os cães à problemas graves como o raquitismo e a osteodistrofia fibrosa. Além disso, são também ricos em glucosaminoglicanos, como a glucosamina e acido hialurônico. Muito benéficos para pacientes que lidam com osteoartrose, pagam-se fortunas por suplementos comerciais com esses componentes, que seriam facilmente substituídos pela oferta regular de um alimento muito barato.

Outro benefício frequentemente esquecido é que os ossos melhoram o perfil de aminoácidos da dieta. A matrix orgânica dos ossos é constituída principalmente por um tipo de proteína chamado colágeno. É proteína mais abundante do corpo dos mamíferos (algo entre 25 e 35%). A molécula de colágeno em si não é absorvida inteira pelo corpo, mas digerida em pepitídeos que são compostos de aminoácidos, e dois deles são especialmente muito importante, a glicina e a hidroxiprolina. Sem os ossos, uma dieta rica exclusivamente em tecidos musculares (que em comparação, tem apenas 1-2% de colágeno) acaba sendo excessiva no aminoácido metionina. Níveis excessivos de metionina estão correlacionados a alguns problemas, e aumentam a homocisteína, que é um marcador inflamatório. A glicina é necessária para detoxificar o corpo de um excesso de metionina. Além disso, muitos problemas relacionados à saúde da pele, dos olhos e do intestino podem ser ligados à deficiência de hidroxiprolina. Muitos dos benefícios observados no uso do colágeno, presentes nos populares caldo de ossos e suplementos dietéticos de colágeno hidrolisado, pode ser explicado pelo melhor balanceamento aminoacídico da dieta. Isso por si só, já é um motivo para incluí-los da dieta de todo cão, mesmo que picados ou moídos, para garantir uma melhor adequação nutricional.

Mas minha recomendação é evitar o moedor sempre que possível. Porque a mastigação ossos oferecem estímulos difíceis de serem replicados. A abrasão do esmalte dentário promovida pela estrutura rígida dos ossos é essencial para um boa saúde oral, evitando a formação da placa bacteriana, prevenindo a doença mais prevalente na espécie atualmente, que a periodontite. Justamente os cães de menor porte, os mais privados desse hábito, são os mais acometidos e se beneficiariam enormemente. Além da melhorar a saúde oral do seu cachorro, mastigar ossos é ótimo exercício para a musculatura da cabeça e pescoço, e oferece um estímulo mental importante para um animal, que nos tempos modernos já não precisa caçar seu alimento.

Dito isso, é importante para ressaltar que não existe dieta absolutamente segura. Sim, mesmo ossos crus podem causar acidentes. Ossos cozidos e ossos longos de grandes mamíferos (fêmur, canela, etc), de fato, são perigosos. Devido a alteração da estrutura do colágeno e arquitetura mais compacta, respectivamente, têm maior possibilidade de lascar e formar pontas afiadas. Nunca ofereça esses tipos de ossos para seu cão. É importante não só escolhê-los de acordo com o comportamento e tamanho do seu cão, mas também monitorá-lo durante a refeição, ficando atento para engasgos e recolhendo fragmentos deixados para “depois”, que podem facilmente se contaminar. E por mais incrível que pareça, rações secas extrusadas também estão relacionadas a complicações graves, como asfixias, dilatações e torções gástricas, urgências veterinárias muito comuns. A escolha da dieta passa pela avaliação de desvantagens e benefícios, mas não se iluda, sempre existirão riscos.

Para ajudar, vou apresentar uma tabela com ossos carnudos adequados para diferentes tamanhos e tipos de cães. Animais esfomeados devem ser ensinados a mastigar, ou deve-se optar pela oferta dos ossos picados ou moídos. Uma boa regra seria escolher ossos maiores que a cabeça do cachorro, que os obriga a mastigá-los antes de engolir, ou picá-los em pedaços que não causariam problemas se deglutidos inteiros (para isso, use um cutelo pesado e afiado).


TIPOS DE OSSOS DE ACORDO COM O TAMANHO DO CÃO


(*) Para cães esfomeados, que tendem a mastigar pouco os ossos e tentar deglutí-los inteiros, recomendo que sejam picados em pequenos pedaços, ou moídos.

(**) Ossos com pouquíssima quantidade de carne. No cálculo das proporções, contar somente como osso (a maioria dos ossos carnudos tem metade carne, metade osso). Com isso ajustar o resto da dieta, aumentando a quantidade carne desossada.

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