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  • Foto do escritorDr. Artur Vasconcelos

TRANSPLANTE DE FEZES … é isso mesmo que você leu!



Muito mais do que uma “coprofagia gourmet”, o transplante de fezes, ou terapia restauradora do microbioma intestinal (TRMI), pode ser uma ferramenta importantíssima dentro do consultório.


Desde quando ouvi falar sobre o assunto, foi algo que despertou muito meu interesse. Não só pelas possibilidades e resultados descritos, para problemas cada vez mais desafiadores. Mas também por simular um processo absolutamente natural, em qualquer espécie, que é a troca de informação microbiológica entre os indivíduos.


Em um mundo cada vez mais germofóbico, com tutores criando seus animais em “bolhas” de porcelanato, calçados em suas botinhas, a revalorização das fezes no ciclo da vida é um brilho no fim de um longo e escuro túnel.


Retomei a prática apenas recentemente, alguns anos após uma primeira impressão positiva, enquanto ainda trabalhava na UFMG.


Reforço a necessidade de cautela, da imprescindível e correta triagem de doadores e receptores. A verdade nua e crua é que não sabemos praticamente nada sobre o intestino e sua modulação.


Como qualquer intervenção, não é uma pílula mágica. E muito menos inócua. Responsabilidade na medicina complementar é algo que não só beneficia os pacientes, mas valoriza o profissional que a pratica.


UMA PRÁTICA CURIOSA


Para pacientes com diarréias, dores abdominais e vômitos crônicos, nem sempre as terapias menos agressivas, como ajustes de dieta e pré e probióticos funcionam muito bem. E antibióticos e imunossupressores, apesar de ferramentas importantes, podem ser extremamente danosos a médio ou longo prazo.


O transplante fecal, bacterioterapia ou terapia restauradora de microbioma intestinal (TRMI) é uma abordagem (nem tão) nova que possibilita restaurar a saúde de pacientes com alterações gastrointestinais crônicas, principalmente aqueles com disbiose.


COMO FUNCIONA


Consiste da administração de fezes (com seus microorganismos) de um indivíduo doador hígido para o animal doente, por via retal e/ou oral. O momento ideal, número de transplantes e a técnica utilizada devem ser discutidos junto ao veterinário, variando de acordo com o histórico do paciente.


Por via retal, se usa uma sonda para inocular uma solução preparada com as fezes frescas ou descongeladas. É um procedimento rápido e minimamente invasivo. Por via oral, as fezes sólidas podem ser administradas com alimento, ou, preferencialmente, dentro de cápsulas gastro-resistentes.


OUTRAS ESPÉCIES


Os estudos em animais são escassos, apesar da adoção da prática por vários colegas. Historicamente, veterinários utilizam, com sucesso, o transplante de suco rumenal na bovinocultura.


Em humanos, a prática tem sido ainda mais utilizada, especialmente como alternativa para pacientes com colite por Clostridium difficile, bactéria de difícil tratamento, que mata milhares de pessoas em todo o mundo. Estudos demonstram eficácia superior a 90%, com um único transplante.


TRIAGEM DOS DOADORES


Ainda temos vários mistérios à respeito do microbioma intestinal, e a TRMI não é um procedimento sem riscos. Além de doenças infecciosas, um procedimento pouco criterioso pode potencialmente desencadear vários problemas de saúde.


O doador de fezes deve ser rigorosamente triado, continuamente, não só com exames de sangue e fezes, mas em histórico de saúde e estilo de vida. Deve ser um animal jovem, não castrado, que se alimenta de comida bioapropriada e que não tenha feito uso de antibióticos, vermífugos, inseticidas e outros medicamentos que interferem na saúde do intestino.


NOVAS POSSIBILIDADES


Existe uma expectativa do uso da TRMI para para outros problemas além dos gastrointestinais, como doenças alérgicas (atopia), desequilíbrios endócrinos (hiperadrenocorticismo) e obesidade.


No entanto, como para qualquer procedimento ainda sem nível de evidência alta, devemos ser cautelosos. Muitas terapias complementares surgem prometendo uma melhora certeira para uma gama extensa de situações, mas não se sustentam. Replicar os resultados, sob rigor científico, é essencial para entendermos melhor os riscos, benefícios e cuidados necessários.


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