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  • Foto do escritorDr. Artur Vasconcelos

Vacinação racional dos Pets

Atualizado: 14 de dez. de 2020

Todos os tutores temem que seus cães adoeçam, especialmente quando se trata de infecções como a parvovirose e a cinomose, doenças graves e contra as quais existem vacinas.


A imunização foi uma das descobertas mais importantes da medicina, tanto para conquistar saúde quanto longevidade. Porém, as vacinas também podem fazer mal quando usadas de forma inadequada.

Na medicina veterinária, a recomendação geral ainda é vacinar os cães anualmente. Mas…. será que isso é realmente necessário?


Para esclarecer esse ponto, existem centenas de trabalhos científicos publicados nas últimas décadas. Não é uma questão de opinião, mas sim de estudar as evidências científicas e seguir as diretrizes utilizadas atualmente em todo o mundo (Wsava Vaccination Guidelines – Portuguese).


Por que se preocupar em vacinar menos?


O excesso de vacinação pode ter muitas consequências para a saúde. As reações adversas e complicações das vacinas são chamadas de vacinose:


Reações imediatas às vacinas:


  • alergia;

  • inflamação;

  • febre;

  • fadiga;

  • perda de apetite;

  • lesões na boca.


Reações em médio prazo:

Acometimento dos nervos;convulsões;tumores no local da aplicação;imunossupressão.


Reações tardias às vacinas:

Trombocitopenia auto-imune (queda na contagem de plaquetas);anemia hemolítica auto-imune;artrite;alergia;problemas renais.


Planejamento individualizado de vacinas


Cada animal é único! Sua saúde, hábitos de vida, ambiente onde vive e suas atividades de lazer são diferentes. Portanto, a imunização deve ser programada individualmente, baseada na necessidade real do paciente.


A vacinação do filhote, realizada entre 2 e 4 meses de idade, está indicada em todos os animais. As vacinas indicadas são a polivalente e a anti-rábica.

Existem vários tipos de vacina polivalente, que conferem imunidade contra:




(*) Essas duas cepas de Leptospira não têm importância clínica para animais de companhia no Brasil. A L. Pomona infecta suínos e a L. grippotyphosa tem como hospedeiros roedores silvestres dos EUA e Canadá.


Vacinas essenciais, opcionais e as não recomendadas:


São consideradas essenciais, no Brasil, as vacinas contra cinomose, parvovirose, hepatite infecciosa canina e raiva.

Algumas outras vacinas são não essenciais ou opcionais, por dois motivos básicos:

porque protegem contra doenças benignas e autolimitadas (como é o caso da tosse dos canis);porque têm indicações bem específicas (como é o caso da vacina contra leptospirose).

Por fim, algumas vacinas são não recomendadas por não existirem evidências científicas de sua eficácia.


Vacinas essenciais


Cinomose

A cinomose é uma doença virótica altamente contagiosa. Ela provoca inicialmente febre, prostração, vômitos e diarréia, evoluindo com sintomas respiratórios, secreção nasal e ocular. O comprometimento do sistema nervoso central fica evidente quando surgem os tremores e convulsões.

Não existe um tratamento eficaz para a cinomose, que frequentemente causa sequelas ou a morte do animal. A prevenção é feita por meio da vacinação, que consiste em 3 a 4 doses da vacina a partir de 6-8 semanas até 4 meses de vida.

Apenas depois de completada a vacinação o filhote deve passear na rua e ter contato com outros animais desconhecidos.


Parvovirose

A parvovirose é uma doença altamente contagiosa causada por três tipos diferentes de parvovírus. Ela é transmitida por meio de objetos contaminados ou pelas mãos e roupas de pessoas que cuidam dos animais. O vírus pode persistir por meses no ambiente e em objetos.

Ocorre prostração, perda de apetite, febre, vômitos e diarréia grave, frequentemente com sangue. Alguns cães evoluem com desidratação grave, choque e morte. Outra complicação possível é o acometimento do músculo cardíaco (miocardite aguda).

Não existe tratamento específico contra a parvovirose e sua prevenção é feita por meio da vacinação e da higienização do ambiente.


Hepatite infecciosa canina

Dois tipos de adenovírus provocam doenças em cães: tipos 1 e 2.

O adenovírus tipo 1 causa a hepatite infecciosa canina (HIC), que acomete principalmente cães jovens e não vacinados. Eles apresentam febre alta, diarréia com ou sem sangue, dor abdominal, aumento do fígado, icterícia (mucosas amareladas) e apatia. É uma doença grave e que pode levar o animal ao óbito.

O adenovírus tipo 2 causa a tosse dos canis ou gripe canina. Os animais apresentam tosse intensa, respiração forçada, apatia e tentativa de vômitos. Acomete frequentemente cães que vivem em aglomerados ou frequentam locais com grande número de animais. É uma doença relativamente benigna e os animais se recuperam em até 15 dias.

As vacinas que possuem o adenovírus do tipo 2 têm menos efeitos adversos do que as que contêm o tipo 1 e conferem imunidade cruzada contra essa cepa do vírus. Dessa forma, vacinas que carregam apenas o vírus do tipo 2 protegem o cão contra a tosse dos canis* e a hepatite infecciosa.


(*) A tosse dos canis também pode ser causada por outros agentes, como o vírus da parainfluenza canina e a Bordetella bronchiseptica. Existe uma vacina específica para a tosse dos canis, de aplicação nasal, algumas vezes indicada para “complementar” a polivalente. Ela será abordada na sessão vacinas não essenciais.


Raiva

A raiva é uma doença grave e potencialmente fatal, transmitida pela mordida ou arranhadura de um animal infectado (cão, morcego, guaxinim etc).

Ela acomete o sistema nervoso central e provoca irritação, agressividade, perda da coordenação motora, coma e óbito.

Não existe tratamento para a raiva em cães, apenas em humanos. A melhor forma de prevenir a doença é por meio da vacinação.


As opções de vacinas disponíveis no Brasil são limitadas. Por esse motivo, a imunização acaba sendo feita contra um maior número de doenças do que seria necessário ou recomendado. A vacina polivalente ideal deveria conferir imunidade contra cinomose, parvovirose e adenovirose (sendo que a vacina contra adenovírus do tipo 2 confere uma imunidade cruzada contra o tipo 1, que provoca a hepatite infecciosa canina). Ou seja, a vacina seria uma V3 e protegeria contra essas quatro doenças.


Vacinas não essenciais


As vacinas não essenciais têm indicação mais restrita, de acordo com o risco de exposição a doenças, o estilo de vida e as condições de saúde do animal. São elas:

leptospirose;traqueobronquite infecciosa;leishmaniose.

Elas são opcionais e sua necessidade deve ser avaliada pelo veterinário, de acordo com o caso.


Leptospirose

A leptospirose é causada por uma infecção pela bactéria Leptospira, contraída através da pele ou ingerida. Ela é comumente encontrada na água, mas também pode estar presente em objetos contaminados pela urina ou fezes de ratos, cachorros, gatos, gambás, guaxinins e outros animais silvestres.

A doença atinge principalmente o fígado e os rins, e pode levar à morte. Ocorre febre, apatia, vômitos, urina escura, icterícia e úlceras bucais.

A prevenção é feita por meio da vacina e outros cuidados como:

evitar o contato com poças e coleções de água provenientes de alagamentos;recolher e lavar diariamente as vasilhas de água e comida;eliminar os ratos do ambiente, se houver.

A vacina contra a Leptospira, uma bactéria, não é tão eficaz quanto as vacinas para doenças virais. Um animal vacinado pode contrair a doença, porém ela se apresenta de forma mais branda.

Além disso, existem mais de 30 tipos diferentes de Leptospira, que variam de acordo com a localização. Como as vacinas contêm apenas algumas cepas, elas frequentemente não correspondem ao perfil epidemiológico do local onde mora o animal.

A vacina contra a leptospirose é indicada em situações específicas como, por exemplo, para animais que nadam em rios ou moram em ambientes infestados de roedores.


Traqueobronquite infecciosa

Como vimos há pouco, a tosse dos canis ou gripe canina é causada por vários agentes, entre eles:


  • adenovírus tipo 2;

  • vírus da parainfluenza canina;

  • bordetella bronchiseptica.


A vacina polivalente contêm o adenovírus tipo 2. Em casos indicados, ela pode ser complementada com a aplicação da vacina nasal específica para tosse dos canis, para aumentar a proteção.

Quando a vacina para tosse dos canis está indicada?

Ela é mais importante para animais que vivem ou têm contato com outros cães (creches, exposições e canis).


Leishmaniose

A leishmaniose canina é causada pelo protozoário Leishmania e transmitida pelo mosquito palha. Os cães infectados podem nunca apresentar sinais da doença ou desenvolverem alterações na pele e órgãos internos.

A principal medida de prevenção é o uso de repelentes para evitar a aproximação do mosquito. A vacinação é indicada como forma de prevenção, mas não substitui o uso dos inseticidas tópicos.

É importante lembrar que animais saudáveis têm melhor imunidade. Investir em uma excelente nutrição, enriquecimento ambiental, uma rotina saudável de exercícios e bem estar é essencial!


Devo vacinar contra a leishmaniose?


A vacina contra Leishmaniose não impede a infecção, porém torna a doença mais branda ao melhorar a imunidade celular do animal. Além disso, a duração da imunidade é curta, menor ou igual a um ano.

Se você se decidir pela vacinação contra a leishmaniose, saiba que mesmo um animal vacinado pode ser infectado e passar a transmitir a doença. Para ter certeza de que ele não é portador de leishmaniose, ele precisa ser submetido a exames laboratoriais específicos periodicamente.


Vacinas não recomendadas


Coronavirose

A importância da doença coronavirose nos cães é questionada, pois o coronavírus parece ser apenas um agente secundário de doença. A vacina contra a coronavirose não é recomendada atualmente.

Giardíase

A giardíase é uma parasitose intestinal causada pela Giardia lamblia. A vacina contra a doença não tem eficácia comprovada cientificamente. Infelizmente, um dos poucos países que ainda a utiliza é o Brasil.


Quanto tempo duram as vacinas?


As vacinas podem conseguir uma imunidade duradoura, por muitos anos ou por toda a vida. Mas… como comprovar isso?

Após a vacinação do filhote, a eficácia da imunização pode ser demonstrada a qualquer momento por meio de uma titulação de anticorpos. Esse exame mede a quantidade de anticorpos produzidos pelo animal após o contato com o antígeno do vírus, bactéria ou protozoário em questão.

A titulação identifica que o animal teve contato com o microrganismo, seja na vacinação ou na natureza.

Em alguns casos, a vacina não tem resposta e o animal não desenvolve imunidade. Isso é mais comum nos filhotes vacinados muito cedo, em que anticorpos da mãe, ainda circulando em seu corpo, eliminam os antígenos da vacina antes que ocorra a imunização.

Esses anticorpos maternos desaparecem entre 2 e 4 meses de idade. Por isso, é importante que a última dose das vacinas do filhote seja dada aos 4 meses ou mais.

Na medicina veterinária, são realizadas frequentemente titulações para as doenças virais:

cinomose;parvovirose;adenovirose.


Quando deve ser feita a titulação?


O ideal é que a primeira titulação seja feita em torno de dois meses após o término da vacinação primária, para comprovar a imunidade. Depois disso, comprovada a eficácia das vacinas aplicadas até aquele momento, pode-se realizar nova titulação a cada três anos. Isso mesmo, três anos sem vacinar!

Se não houver titulação disponível, a diretriz atual de vacinação (Wsava, 2015) determina que as vacinas sejam aplicadas a cada três anos.


E a vacina de raiva?


A vacina de raiva é um caso especial, já que sua aplicação anual é exigida por lei em vários locais. As pesquisas mostram que a imunidade contra a raiva tem duração mínima de 3 anos, o que tem gerado questionamento por parte dos tutores e veterinários, que demandam uma alteração na legislação.

Na Europa e nos Estados Unidos, algumas vacinas contra a raiva têm alterado a bula para indicar a vacinação a cada três anos.

A titulação para raiva não é uma opção, pois a vacina é cara e não disponível em todos os locais. Sua utilização se restringe a animais em trânsito internacional para países onde a raiva foi erradicada.


Mas, lembre-se….


Mesmo sem a vacina anual, é MUITO importante que seu pet seja avaliado pelo veterinário que o acompanha pelo menos uma vez ao ano. Cuidados com a saúde bucal, alimentação, comportamento, controle de parasitas e zoonoses devem ser abordados periodicamente para garantir a saúde e o bem estar do animal.



Texto feito em parceria com o portal Convite à Saúde Conviteasaude.com.br



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